Salto
Fino e tira com bordado ? Nada disso: Charlotte Dellal faz parte dos jovens
criadores de sapatos que disseminam uma pegada mais contemporânea.
Quando
criança, ela brincava nos jardins de rosas do castelo francês de Valentino, a
quem chama com intimidade afetuosa, de tio. Sempre que a princesa Caroline de
Mônaco e seus filhos vêm ao
Rio de Janeiro, é no apartamento dela que se
hospedam.
É
presença comum em jantares na casa de Mick Jagger e, mais ainda, em todo tipo
de atividade promovida por Mario Testino, um dos maiores fotógrafos de moda do
mundo e padrinho de sua irmã mais nova. Bela e badalada por parte de mãe e
muitas vezes milionária por parte de pai.
Charlotte
Dellal, 30 anos, poderia ser o que quisesse na vida, mas escolheu ser
sapateira. De luxo, é claro. Há quatro anos, a jovem estilista, filha de Andrea
e Guy Dellal, ela ex-modelo carioca, ele incorporador das altas esferas
londrinas, lançou à marca Charlotte Olympia, com seu sobrenome do meio, em uma
loja encantadora em Mayfair.
Sem
as conexões proporcionadas por sua família seria mais difícil, mas, sem o
frescor e a identidade marcante da grife nada aconteceria. Em 2009, quando a
atriz Sarah Jessica Parker, a fada madrinha de todos os sapateiros, apareceu em
um tapete vermelho com um modelo de Charlotte, à marca entrou com passos firmes
(e bem miudinhos, considerando-se o tamanho dos saltos) no olimpos dos sapatos
de alto luxo, aqueles cujos preços começam na casa dos 1.400 reais (em
conversão simples; no Brasil, impostos e outros custos acrescentam pelo menos
1.000 reais ao preço final)
Os
sapatos de Charlotte podem entrar nos melhores ambientes, mas, definitivamente
não são para senhoras que querem ser finas e discretas. Os vertiginosos 15
centímetros de salto são turbinados, na maioria das modelos, por uma plataforma
de 3 centímetros, colado apenas na parte da frente das solas. A meia-pata, como
é conhecido o dispositivo, não tem novidade em si, mas a sacada de Charlotte
foi incorporar cores vivas, sozinhas – o modelo de couro dourado é a sensação –
ou combinados com tons contrastantes.
O
truque da meia-pata cria a impressão de que a usuária está flutuando e imprime
um efeito longilíneo até em baixinhas como Victoria Beckham. Charlotte estudou
na mais antiga faculdade de sapateiros da Grã-Bretanha, a Cordwainers, na qual,
em suas palavras, “costurou, na mão, muito couro e sola de borracha”.
Hoje
produz suas peças na Toscana, na Itália, ainda a melhor do mundo nos quesitos
técnica e materiais. “Trabalho com a mesma fábrica da Prada. O couro, o cetim e
o veludo que utilizamos são todos italianos”, diz. Charlotte faz parte de uma
geração de sapateiros jovens – cinco anos de mercado – antenados com sua
clientela. Ícones das jovens ricas e bacanas (Charlotinhas ?), como a atriz
Blake Lively e a fashionista Olivia Palermo, combinam à perfeição com seus
modelos.
Em
uma esfera acima estão nomes como Nicholas Kirkwood e Brian Atwood. Francesco
Russo, o modernizador da tradicional Sergio Rossi, é provavelmente o maior
talento desse ramo. Acima deles paira a tríade todo-poderoso formado por Manolo
Blahnik, pelo fetichista Christina Louboutin e por Jimmy Choo, hoje uma marca
desvinculada do criador.
Uma
das principais diferenças entre os sapateiros clássicos e nós, da nova geração,
é que eles fazem os modelos “Cinderela”, aqueles com saltos finos, pedrarias e
tiras, compara Alexandre Birman, da família dona da Arezzo, que também desponta
como estilista no panorama internacional.
O
mundo dos sapatos de luxo ainda não se recuperou do grande processo perdido por
Louboutin para à francesa Yves Saint Laurent (com direção criativa dizem que
ameaçada, de Stefano Pilati) e a francana Carmen Steffens, pelo uso das
legendárias solas vermelhas. Uma cor não pode ser marca registrada, determinou
o juiz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário