sábado, 14 de janeiro de 2012

Texto - Síndrome de cinderela.


Não há dúvidas que os sapatos são uma das grandes paixões femininas. A preocupação com o adorno dos pés tem mais de 10.000 anos. Sem dúvida os calçados chamam a atenção a ponto de passarem uma forte impressão sobre a posição social e econômica de quem os usa. 

Nada mais desagradável do que um pé mal calçado, mesmo
que se esteja vestindo uma roupa de milhares de dólares. Os pés são, além de ponto estético, uma área de grande sensualidade em todas as culturas. Freud postulava que o sapato feminino simbolizava a vagina. Portanto o ato de calçar os sapatos era uma simbologia do ato sexual.

O primeiro registro do uso de calçados vem das pinturas nas paredes das cavernas da Espanha, feitas há mais de 15.000 anos, mostrando figuras humanas usando botas.

Os Etruscos, que dominaram toda a região leste da Itália, por volta de 4.000 anos atrás, usavam botas altas, amarradas, com pontas viradas, uma clara evidência da importância da moda, uma vez que o clima quente da região tornava o uso de botas desnecessário e até desconfortável.

Já os gregos antigos demonstravam a importância do calçado na sociedade da época: não se usavam sandálias dentro de casa, mas em público elas eram indispensáveis. Um símbolo de poder e posição social. Os sapatos eram símbolo de poder, também, na tradição anglo-saxã, aonde na ocasião da cerimônia matrimonial, o pai da noiva entregava, ao noivo, um pé de sapato da filha simbolizando a transferência de autoridade. Nas décadas de 1880 a 1890, a decência e o decoro demandavam que as damas usassem sapatos de cor escura.

Até o ano de 1822 os dois pés do sapato eram iguais. Foi neste ano que sapateiros norte-americanos criaram o sapato torto, em que o pé direito é diferente do pé esquerdo. Isto tornou a moda dos pés muito mais confortável.

Há séculos que as mulheres perdem a cabeça por causa dos sapatos. Josephine, a primeira esposa de Napoleão Bonaparte desfilava com 5 ou 6 pares diferentes todos os dias. Maria Antonieta jamais usava o mesmo sapato duas vezes. Possuía mais de 500 pares, catalogados por cor, modelo e data. Alguns tão delicados que só os podia usar sentada, não serviam para caminhar. E como não falar de Imelda Marcos, a famosa ex-primeira dama das Filipinas, que possuía mais de 3.000 pares.

Os sapatos e sandálias com plataformas, tão em moda nos dias de hoje, existem desde o século XV. Chamados chapins podiam chegar a alturas absurdas de 65 cm. No século XVI, na Inglaterra, foi promulgada uma lei que permitia ao marido anular o casamento se a noiva falsificasse sua altura, usando chapins, durante a cerimônia.

Dizem que foi Catarina de Médici quem inventou os sapatos de salto alto. Delicada e mignon, Catarina encomendou sapatos com altos saltos para parecer mais magra e alta durante a cerimônia de seu casamento com Henrique II. 

Os sapatos possuem uma linguagem própria que estabelece padrões sociais. Sapatos feitos de materiais exóticos como crocodilo e avestruz representam sensualidade e poder econômico. Couros duros e pesados possuem uma conotação mais masculina e forte, o uso de materiais mas delicados em sapatos do mesmo modelo, sugerem individualidade extrovertida e brilhante. Couros macios indicam uma sensualidade discreta enquanto os mais duros são uma afirmação de virilidade.

Os sapatos podem ser sexys ou sensatos. Os modelos sapatilhas, mules, babuches, sapatos de cardeal e sandálias de salto alto possuem uma conotação sexy. Já os sapatos tipo Oxford, tamancos, mocassins, muitos modelos de sandálias e botas de salto rasas, são considerados calçados sensatos.

É claro que saber usar a roupa certa em cada ocasião é tão importante quanto completá-la com os acessórios apropriados. Neste ponto deve-se prestar muita atenção para que os sapatos não mandem o sinal errado. Veja bem, em uma reunião de negócios aquele top lindo, sem alças, que cai tão bem, umas blusas rendadas, cuja transparência dá um ar delicado ao traje, ou mesmo a saia maravilhosa, curta e justa que alonga as pernas, pode ser uma escolha desastrosa (a não ser que se esteja procurando fechar um contrato como modelo). Roupa sexy transmite a informação de que não se tem confiança na própria capacidade profissionais e, portanto, é necessário usar as qualidades físicas para convencer.

Por outro lado, conjuntos por demais discretos ou fora de moda, combinações erradas como roupas leves e floridas com jaquetas de couro ou jeans podem revelar uma falta de confiança na capacidade profissional ou mesmo desorganização.

O mesmo se dá em relação a escolha errada dos acessórios: vejamos os sapatos. Muitas das reações atuais ao uso de diferentes modelos de sapatos possuem raízes mais antigas. São fatos que atualmente já não são mais levados em consideração, na verdade já estão completamente esquecidos, isto é, conscientemente esquecido, as reações inconscientes ainda perduram. Este é o caso das sandálias abertas, com sua forte conotação de disponibilidade sexual: nos anos 30 e 40, o uso de sandálias abertas, expondo os dedos, durante o dia, era inadmissível. Este tipo de atitude era considerado completamente depravado, um verdadeiro escândalo. As reações nos dias de hoje, dependendo da ocasião, ainda é a mesma, ainda que isso seja inconsistente com a época em que estamos vivendo.

Na maioria das profissões conservadoras o tailleur ainda é a melhor solução. O toque de leveza pode ser dado por um botão superior da blusa ou casaco aberto, ou cores incomuns e criativas, ou mesmo um modelo não tradicional mas de bom corte.

A saia na altura dos joelhos, um mínimo de maquiagem e jóias super discretas são essenciais. Mas nada disso funciona se os sapatos não se adequarem. Estes devem ser de saltos médios a baixos. Sapatos absolutamente sem salto indicam um temperamento por demais artístico e por associação, gênio difícil; já sapatos de saltos altos são sexy demais, tornam-se uma distração e um desafio perante os colegas do sexo masculino. Já as profissões mais criativas e não tão conservadoras pedem por peças separadas que possam ser combinadas em conjuntos, no estilo dos tailleurs, mas que não possuem a rigidez dos mesmos. A regra para os sapatos permanece a mesma.

Esta regra sapato/ocasião serve para diversas situações. Numa reunião de negócios uma mulher usando mocassins de crocodilo está afirmando que possui poder e status e que tem os pés plantados, bem firmes, no chão. Com escarpins clássicos, de salto médio, estará dizendo que é alguém em que se pode confiar, pois possui dignidade e refinamento. Já podem imaginar o desastre que seria o uso de sandália de tiras que enlaçam ou amarram os tornozelos, que dizem que está disposta a flertar e revelam uma personalidade vulnerável. Ou, pior ainda, sapatos enfeitados que estão assinalando a disponibilidade para uma noite de aventuras com uma personalidade extravagante.

Sapatos de salto alto então, nem pensar, especialmente com saia justa. Veja bem, um estudo feito pelo Harper's Index demonstrou que com o uso de sapatos de salto alto, a saliência das nádegas femininas aumenta em 25%. Seria uma situação bastante embaraçosa para todas as partes envolvidas em negociações sérias.

Já em diferentes situações estes sinais são bem vindos. Em ocasiões informais, uma festa ou um encontro, os sapatos podem transmitir mensagens muito úteis.

As mules dizem que o flerte é bem vindo, que as coisas podem rolar ou não. Sapatilhas fechadas avisam para ir devagar, com muito cuidado. Sandálias abertas e escarpins de salto alto anunciam uma personalidade sexy, aberta e receptiva.

Sapatos de salto baixo dizem que a conquista é indiferente. Enfim, o que pode ser um desastre em uma ocasião é um auxílio inestimável em outra. É só saber o que se está dizendo com os pés e adaptar esta linguagem à ocasião apropriada. 

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