sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Texto - Breve história dos sapatos e sandálias.



A origem dos sapatos e sandálias de salto alto se perde em séculos de história. Os primeiros modelos de saltos altos foram encontrados em uma tumba do Antigo Egito e datam do ano 1000 aC. Esses saltos, provavelmente, caracterizavam a alta posição social de quem os utilizava.

O gosto por saltos altos predominou também na Grécia Antiga. Ésquilo, o primeiro grande autor trágico da história grega, fazia os atores de suas peças usarem sapatos plataformas de
diferentes alturas para, assim, indicar a posição social de cada personagem. A mesma idéia existiu no Oriente. Por exemplo, no Japão o imperador Hirohito foi coroado, em 1926, calçando sapatos com plataforma de 30 cm de altura.

Mas a história também revela que saltos altos estão associados à sexualidade. As cortesãs japonesas usavam tamancos com alturas entre 15 e 30 cm. Já as concubinas chinesas e as odaliscas turcas eram obrigadas a usar sandálias altas provavelmente para impedir que fugissem dos haréns. Na Antiga Roma, as prostitutas eram identificadas pelos saltos que usavam.

Na Época Moderna, a moda européia dos saltos altos teve início com os “chopines” italianos, sandálias com plataformas de altura variando entre 15 e 42 cm. Algumas chegavam a alcançar 75 cm e as mulheres que os calçavam tinham que se apoiar em bengalas ou bastões para conseguir equilíbrio ao andar. Em 1430 os chopines foram proibidos em Veneza, mas como se sabe, nada pode impedir uma tendência da moda.

A história atribui à invenção dos saltos altos a Catarina de Médici, no século XVI. Devido a sua baixa estatura, ela os utilizou quando se casou com Henrique II, da França. Ao chegar a Paris ela trazia em sua bagagem uma série de sapatos com saltos produzidos por um artesão italiano para deixá-la mais alta. E, assim, acabou por introduzir a moda dos saltos altos na história da aristocracia européia.

No século XVII, o parlamento inglês punia como feiticeiras todas as mulheres que usassem sapatos de salto alto para seduzir ou atrair homens ao casamento. E por falar em sedução, Giovanni Casanova, em sua biografia, declarou seu amor pelos saltos altos que, segundo ele, levantavam as armações das saias-balão, usadas à época, desta forma mostrando as pernas femininas.

No século XIX, os saltos altos foram introduzidos nos Estados Unidos importados diretamente dos bordéis de Paris. O sucesso dos saltos altos na capital francesa era enorme, pois a maioria dos clientes preferia contratar os serviços de prostitutas que usavam saltos.

Os designers de sapatos não existiam como tais antes do século XX. A criação de sapatos de salto alto era mais uma atividade, dentre muitas, dos modestos sapateiros. A indústria de produção em massa de calçados teve início nos Estados Unidos, onde começou como uma atividade familiar exclusiva de colonos do leste do país (a Nova Inglaterra) e acabou se tornando as primeiras grandes lojas por volta da metade do século XVIII.

Mas a tradição dos sapatos confeccionados à mão é em grande parte um fenômeno europeu, especialmente em países como a Inglaterra, Itália e França, onde o design de calçados estava intimamente associado ao design de moda. A indústria calçadista parisiense foi fundada pelo inglês Charles Worth, em 1858. Worth foi o mais destacado estilista do mundo da moda na época, a ponto de ter sido ele o responsável por vestir toda a realeza da Europa.

Em torno de Worth outros estilistas surgiram, como por exemplo, Paquin, Chernit e Doucet, o que transformou Paris na capital mundial da moda. Alguns estilistas que trabalhavam para estes mestres, com o tempo foram se tornando independentes. Dentre estes podemos citar Pinet que chegou em Paris em 1855 para trabalhar para Worth e que acabou criando o salto que leva seu nome: o salto Pinet, que é mais fino e mais reto que o popular salto Louis.

Outro importante designer de renome a época foi Pietro Yanturni que se auto-denominava “o mais caro estilista de calçados do mundo”, com uma clientela exclusiva de apenas 20 clientes e cujos sapatos atualmente se encontram expostos no Metropolitan Museum of Art de Nova York. André Perugia seguiu os passos de Yanturni: seus sapatos estão no Musee de La Chaussure, em Romans, França.

Em 1900, ainda havia resquícios de preconceito do século anterior. Muitas pessoas consideravam indecentes mulheres que mostrassem suas extremidades desnudas. Por isso, o conforto prevaleceu em detrimento do estilo, que ficava relegado à privacidade doméstica. Em público, botas e botinas apertadas e abotoadas prevaleciam.

A história mudou após a Primeira Guerra Mundial. Com o desenvolvimento da economia, os calçados de tiras entraram em cena: pontudos e com saltos altos modelo Louis. Havia uma verdadeira profusão de cores e os saltos eram até mesmo utilizados para dançar.

Mas os anos 30 trouxeram a Grande Depressão e isto teve repercussões na moda. Os saltos se tornaram mais baixos e mais largos. Nessa época muitas mulheres condenavam os saltos altos, mas foi a partir da Segunda Guerra Mundial que os saltos passaram por uma fase de verdadeiro desprezo devido ao racionamento do couro. Mas o designer italiano Salvatore Ferragamo encontrou a solução ao desenvolver um modelo de calçado com salto anabela em cortiça. Após a guerra esse modelo tornou-se moda, quando muitos estilistas passaram a copiá-lo.

Em 1914, Ferragamo já exportava calçados femininos feitos à mão para os Estados Unidos, onde ficou conhecido como o estilista dos calçados das estrelas do cinema. O inglês David Evins, durante os anos 40, continuou o trabalho de Ferragamo criando coleções para os mais famosos designers de Nova York (Bill Blass, Oscar de la Renta).

Ferragamo, André Perugia e Charles Jourdan competiam entre si para desenvolver o mais refinado e elegante salto, mas, no processo de produção não podiam utilizar materiais frágeis como madeira que poderia não suportar o peso de uma mulher. Muitos designers projetaram saltos em forma de pino de aço recobertos com material plástico, buscando solucionar os problemas de resistência dos saltos.

Os italianos Del Co e Albanese criaram uma sandália para noite com duas minúsculas tiras e um salto baixo sob o arco do pé. Roger Vivier, que então trabalhava para Christian Dior, em Paris, aperfeiçoou este salto, dando-lhe a forma de uma vírgula e acabou por receber todo crédito pela invenção do salto stiletto, em 1955.

Contudo, enquanto os franceses, de fato, não tinham competidores à altura no que diz respeito a moda de vestuário, os italianos, por sua vez, eram os mestres da produção em massa da moda calçadista.

Graças aos contatos de Ferragamo em Hollywood, esses calçados italianos se tornaram muito populares entre as estrelas hollywoodianas nos anos 50 (Jane Mansfield tinha mais de 200 pares). O salto stiletto era, então, sinônimo de “sex appeal”. Enquanto isso, os médicos responsabilizavam os sapatos de salto alto por todos os tipos de problemas. E não só quanto à saúde da mulher. Muitos atribuíam o crescimento da delinqüência juvenil aos saltos altos.

Nos anos 60, teve início a transferência da moda de Paris para Londres e a moda das ruas ditava o que era para ser usado. Com o preço do couro em alta, os materiais sintéticos entraram em cena. Vivier, Herbert Levine e Miller foram os pioneiros na história da utilização de material plástico transparente.

No início dos anos 70 as plataformas retornaram por um breve período na história, especialmente aquelas botas extravagantes de cano alto. Muitas destas botas tinham designs psicodélicos. Era o estilo andrógino do “Glam Rock”. Foi o designer Terry de Havilland quem as popularizou e encontrou adeptos não apenas entre as mulheres, mas também entre gays e lésbicas.

Nos anos 80, mulheres executivas passaram a adotar o salto stiletto como um complemento aos seus vestuários para projetarem uma imagem de eficiência e de autoridade. Os saltos altos simbolizavam glamour e extravagância, além de um modo de expressar feminilidade nunca antes vista na história dos saltos altos.

Na última década do século XX, as plataformas reapareceram pelas mãos de Vivienne Westwood e Jean-Paul Gaultier. Nos anos 90, conceitos antigos foram reciclados. Assim como os estilistas de moda, os estilistas de calçados femininos passaram a ser estrelas do mundo fashion, com Manolo Blahnik sendo, então, o seu maior expoente. Como na década anterior, o nome de marca era a coisa mais importante. Ao lado, uma sandália de Blahnik.

Atualmente, existe uma nova geração de designers. Requisitados por clientes e por estilistas de moda, os sapatos de salto alto de designers como Joan Halpern, Maud Frizon, Beth e Herbert Levine, Andrea Pfister, Jan Jansen, Patrick Cox e Christian Louboutin algum dia serão apreciados como autênticas obras de arte.

A tecnologia tem acrescentado novas opções de materiais (microfibras, tecidos elásticos etc) o que otimiza o processo de produção, que parece indicar que os sapatos e sandálias de salto alto continuarão a fazer muito sucesso na história da moda. 

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